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Artigo PID Brasil

segunda-feira, 9 de agosto de 2021 10:15:32 America/Sao_Paulo

Por pid brasil

Artigo PID Brasil

Desde o início deste ano, empresas de todo o mundo vem sofrendo com atrasos, aumento de custos e prazos e até mesmo quebra de produção devido à falta de semicondutores.

Esta falta mundial de componentes eletrônicos, debelada pela pandemia do COVID-19 é atribuído por diversos especialistas em mercado a três principais fatores:

- Cancelamentos de pedidos por indústrias automotivas: que as indústrias automotivas são grandes consumidoras de componentes eletrônicos (estima-se que um veículo SUV médio, possua cerca de 300 chips embarcados), ninguém duvida. Ocorre que a produção desses chips precisa de uma programação de produção bastante longa, e com a redução das vendas, devido ao COVID, muitas fábricas de automóveis cancelaram seus pedidos, porém, quando tentaram retomar a produção, perceberam que haviam caído para o fim da fila, forçando agora uma demanda por chips atípica e elevada;

- Redirecionamento dos esforços produtivos das Foundrys (como são conhecidas as fábricas de microcomponentes): Atípica e elevada porque, com a pandemia, houve uma forte demanda por novos computadores, smartphones, smart tvs e todo o tipo de eletrônicos que se possa imaginar. É fácil constatar que tudo e todos esses aparelhos eletrônicos demandam muito mais chips e componentes do que veículos, além disso, uma nova onda de produção de equipamentos eletrônicos está em plena ebulição, a tecnologia 5G, ou seja: já que não vendemos para as montadoras, “bora” produzir gadegts, e as montadores que esperem a vez;

- Falta de investimentos globais no setor: apesar das diversas explicações que podemos encontrar para a falta de componentes eletrônicos, tenho comigo que, aqui está o pior e mais latente problema. Nas duas últimas décadas, o mundo passou a olhar para a China (e outros), como a solução para os seus problemas de redução de custos de produção. Hoje, não existe um só país que, de alguma forma, não “terceirize” boa parte de sua produção industrial em países asiáticos. Desde tecidos e sapatos a todo o tipo de equipamento eletrônico, incluindo partes e peças, a China tornou-se a fábrica do mundo. Ou seja, um apagão na produção do país (como o que ocorreu devido a pandemia) tem grande potencial de afetar tudo e todos.

Diante deste cenário mundial, países como Estados Unidos, Alemanha e outros vem anunciando investimentos massivos no desenvolvimento e incentivo à criação de novos centros de produção de componentes eletrônicos locais, objetivando uma menor dependência dos grandes centros produtores de eletrônicos. Obviamente tais investimentos não vão resolver o problema atual. Fábricas de microchips são indústrias extremamente complexas, demandam tecnologias, investimentos e uma curva de aprendizado longa, mas parecem ser um investimento inevitável aos países que querem se manter competitivos no médio e longo prazo.

E no Brasil? Como estamos e o que podemos aprender com isto?

Bem, o Brasil é o Brasil. A produção nacional de chips é irrisória. Existem no país umas poucas fábricas de componentes (que eu conheço só uma: o CEITEC, no Rio Grande do Sul e o Instituto Eldorado, em Campinas), as demais (mais umas três talvez) não passam de montadoras de componentes, e ainda assim, todas elas fabricam apenas componentes de baixa complexidade e com tecnologias ultrapassadas.

Acredito que posso afirmar, sem medo de errar, que importamos mais de 90% de todos os chips que utilizamos (isso só pensando no componente solto) sem contar todos os componentes que já vem montados em placas, equipamentos, kit e dispositivos. Se isso já parece ruim, então saiba que é ainda pior. A principal matéria ainda hoje utilizada na fabricação de chips é o Sílico (Si), e o Brasil é o um dos principais produtores mundiais e o maior exportador dessa matéria prima. Parece antagônico não!?

Será que já não é passada a hora do Brasil começar a explorar melhor nossos outros potenciais? Temos um país abençoado em muitos sentidos, com potenciais enormes de crescimento e desenvolvimento, temos recursos que nenhum outro país tem, e não estou falando de derrubar a floresta amazônica, estou falando de investir naquilo que é mais latente para o nosso futuro: a tecnologia!

 

Meu abraço.

Rui Mauro Fernandes Nóbrega

Engenheiro Eletricista, com ênfase em Eletrônica

Coordenador da Unidade PID BRASIL de Cascavel/PR